segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre a vida e a morte.

Quando vivemos, assim, meio que no automático, acabamos não pensando em morrer. Porque é confortável vivermos com a ilusão de que não pudéssemos morrer.
Hoje pensei em morrer como nunca em minha vida. Não em morrer porque quis me matar - porque o que eu quero é viver - mas pensei nisso porque não posso excluir essa possibilidade da minha tão curta e vivida vida de dezessete anos. Não me importo com as coisas materiais que provavelmente deixarei, nem com as pessoas que provavelmente sofrerão com isso. Penso nas coisas boas que deixarei nessa minha tentativa de ser sempre uma pessoa melhor. Penso em como as pessoas lembrarão de mim.
Calafrios tomavam meu corpo hoje de madrugada, dores, suor e sonhos. Sonhei que morria. Morria queimada junto com meus rascunhos de textos. Então, hoje, tudo parecia tão estranho... Vivi as poucas coisas que me aconteceram nesse dia como se fossem as últimas. Vi o Renato (amigo que está na Áustria) pela webcam, eu estava usando a pulseira que ele me deu na sua festa de despedida, não pude deixar de dizer que o amava, nem as lágrimas deixaram meus olhos em paz enquanto olhavam para ele. Hoje também fiz a matrícula pro meu curso de Letras e já amei o nome das disciplinas: Estudos Crítico-Teóricos da Literatura; Literatura, Leitura e Interpretação; Introdução aos estudos da Linguagem I; Leitura e Produção de Textos e Metodologia Científica. Chamam isso de estudar? Eu chamo de "me apaixonar".
Limpei meu quarto e organizei meus CDs por ordem alfabética e ano de lançamento, reli e-mails antigos e cartas, abri a janela e deixei entrar luz e sol para minhas flores.
Ajudei meu pai a lavar o carro e fiquei reparando o quanto ele é bonito e jovem, mesmo com a barba ficando grisalha; minha irmã pediu que eu a ajudasse em português e história, e, pela primeira vez achei isso bonito e me senti importante para ela.
Dei banho na Pandora, e fiquei observando o quanto ela fica agoniada com a água fria, e o quanto ela fica bonita toda molhada, o quanto ela precisa de mim e o quanto demonstra seu amor quando deita em meus pés.
Assisti ao filme Sete Vidas. Desabei.
Uma amiga de infância me ligou... Só pra ouvir minha voz e conversar besteira. Eu não sei há quanto tempo meu celular não tocava e nem há quanto tempo não ria da ironia de nossas vidas.
Minha mãe conversava comigo sobre algo que não me lembro, só lembro da expressão que ela fazia... Mexia muito as mãos e sorria, provavelmente comentando sobre a faculdade; mas eu só conseguia ver naquele rosto uma adolescente quase como eu, cheia de vida, expectativa e de alegria, não por ela, mas por mim. Eu queria dizer, bem ali, na mesa da cozinha, que eu a amava muito, mas seria estúpido dizer isso assim...
Senti muita vontade de ligar para uma pessoa e conversar como conversávamos há meses atrás. Mas não o fiz. Essa pessoa provavelmente não estaria em casa na hora em que eu gostaria de conversar, e, provavelmente eu não teria coragem de ligar.
Por fim escutei lindos versos de um amigo artista e expert na voz, composição e no violão; Paulo Braz:


" Um vento leve entra pela janela
Espalha pela casa o cheiro dela
É fim de tarde lá no quintal
Coral de pássaros... Sobrenatural
A cadeira na varanda
O rádio toca uma valsa
Lembrança de tempos bons
Um livro, uma lareira
Sua trança, seu sorriso
Tudo à sua maneira
A sua falta é uma dor congelada no peito
O quadro perde a cor
O piano, o seu jeito
O girassol não segue o sol
Não segue a valsa
A pressa virou pausa
E o luto virou cor
O luto virou cor
Se o amor é dor que desatina sem doer
Preciso dessa dor pra poder viver
Coração feito pra viver a dois
Não suportará a dor de estar pela metade
Pulsará lento
Pulsará lento
Pulsará
Lento... "

Eu senti vontade de chorar, e chorei. Não por tristeza, mas por ter vivido o dia de hoje como se eu não fosse acordar amanhã. Agora mesmo, enquanto escrevo, meus olhos ficam marejados. É excesso de vida em mim, excesso de pensamentos... Excesso de filmes e literaturas. Excesso de vida. Vida sofrida sempre bonita. Vida vida vida.
Gostaria de dizer que me importo, gostaria de dizer "Oi", gostaria de dizer o que sinto. Parei para pensar. Já disse isso pra quem merecia escutar. Repetir não é necessário.


Então... Quando eu partir não chorem por mim. Começarei a pensar na eternidade como uma realidade. Começarei a pensar no céu como meu limite.

Para finalizar, Jon Foreman e uma linda performance de Learning How to Die: http://www.youtube.com/watch?v=h70CCpk8nrQ&feature=related

8 comentários:

Rosa Amarela disse...

Oi, Rafa, que lindo o seu texto! Que bom seria se todos nós tivéssemos a condição e a consciência de refletir sobre a vida. Pensar sobre a morte é pensar na vida! Os opostos não se anulam, se completam. Achei lindo o seu texto. Muitas vezes, tenho uma necessidade enorme de falar... falar... sobre aquilo que estou sentindo, sobre o que estou pensando. Contudo, sinto as palavras tão longe... Parece que elas não alcançam a dimensão dos meus sentimentos. Há sentimentos que as palavras não alcançam, talvez todos eles sejam inalcançáveis, nós é que nos iludimos quando achamos que conseguimos representá-los por meio de palavras... Pérfida ilusão! Para muitos doce, talvez.
Fico feliz por saber que compartilhamos, mesmo distante, sentimentos e atitudes.
Beijo carinhoso da mãe torta.

Camila Lua Oliveira disse...

Ah, mew. chorei.Lágrimas explicam.

HF disse...

XD Bom diaaa Rafa!Uiaaa... to no post :-Dpena que nem deu pra ouvir direito,mas foi bom demais converssa besteira e tantas outras coisas:-).Bom chega de post anonimo que de anonimo não tem nada.rs Se cuida.bjo

Anônimo disse...

Aaaa...abafa os erros de portugues!rs;-)

plobrazx disse...

Me senti gente grande.
: )

Álvaro disse...

Olá Rafaela,
Li seu texto "Sobre a vida e a morte" e fiquei simplesmente fascinado!!
E vc ainda nem começou a fazer sua faculdade de Letras??? Meu Deus!!! :)
Parabéns!! E sucessos em sua faculdade!! hehhee

Unknown disse...

Nossa Que intenso e profundO*

Jederson Rodrigues disse...

Descrever o que eu senti ao ler seu texto é simplesmente impossível... Parabéns, pelo lindo texto! Seu texto não é apenas uma vírgula em uma sociedade de "ponto finais". É uma linda (...)!