segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O tempo, esse devorador de coisas

Passei as últimas semanas com essa frase na cabeça, lembro que foi tema de algum dos vestibulares que fiz, o 1º de 2009, bati na trave e não entrei.
Não lembro de absolutamente nada que escrevi nessa redação. Talvez não fosse o tempo, a hora, o tema. Talvez fosse a imaturidade dos tenros dezessete anos de idade. Talvez eu devesse juntar senso e doçura de uma vida inteira, longa, de preferência, pra ter as palavras certas. Rilke diz isso. Somente depois que as recordações se tornam sangue em nós, então podem surgir três ou quatro boas palavras de um verso e que o que faz o bom poema não é a emoção (pois a temos de sobra na juventude), mas sim a vivência.
Talvez fosse preciso viver. Viver e ver o tempo devorar a vida. Ver o tempo devorar os lençóis molhados de lágrimas. Ver o tempo devorar as roupas, cartas e músicas. Viver e ver que depois de viver a vida não mima ninguém, só transforma aquelas recordações em sangue e daí conseguimos escrever algumas poucas palavras que se salvem.
O tempo devorou meu medo. Meu medo do sonho, meu medo da vida. Devorou a maior parte de meus sentimentos e os transformou em pulsações contidas. O tempo veio e fez com que muitas coisas mudassem em mim, os pensamentos amadureceram rápido e tomaram corpo. Um corpo covarde e pessimista, um corpo tímido e medroso que já não combina com o amor colérico de outrora.
O tempo me devorou.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sobre espelhos e a vaga impressão da vida

Toda noite na frente do espelho enquanto massageio meu rosto com os cremes do último tratamento dermatológico que eu acredito que funcionará e sempre me decepciono, acabo por me perceber. Nunca me olho fixamente no espelho, ou olho só até não ter que, de fato, me ver. Ver-se não é simples, olhar nos próprios olhos, decorar cada detalhe de si... É estranho. É estranho que talvez queiramos viver no automático em tudo, inclusive em relação à nós mesmos. Queremos nos esquecer, nos apagar, nos corrigir; mas nunca nos olhar e apenas olhar por algum tempo.
Hoje, aqui, esses olhos cansados desistem de querer idealizar, os cabelos revoltos desistem de se comportar e o coração continua pulsando quase despercebido, a não ser por essa veia do pescoço que salta delicadamente no compasso de cada batida.
Sabe aquela vaga impressão da vida que é só silêncio em nós? Fica mais leve.