terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pequenos términos de mundo

Um exame negativo em outubro, outro em dezembro. Tudo bem, corpo, eu tô entendendo, vou me cuidar.  E a vida recomeça como folha ao vento a esvoaçar sem custo. Que o mundo acabe sem pressa e sem prenúncio. Que dê tempo de ter uma casa com cerca branca, cuidar de loucos e ter cinco cachorros. E que meu corpo se comporte.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

21 em 21

Não sei que peso é esse que a gente carrega o ano inteiro e despenca no dia em que o planeta completa sua volta ao sol desde o dia em que nascemos. Era mais fácil passar por isso há algum tempo atrás. Vestia meu melhor sorriso e encarava todas aquelas vinte e quatro horas de transição. Não sei o que aconteceu dessa vez. À noite, eu chorei. Passei pelo dia invicta, de cabeça erguida, sozinha. Mas à noite, eu chorei. Não lembro como começou, mas depois as lágrimas ardiam em minha pele. Já não sabia se chorava de dor ou de tristeza. Até que adormeci. Fui coroada com ipês amarelinhos. 21 em 21, o mais difícil de uma existência inteira.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Rir de tudo, chorar por qualquer coisa. Eis o mal do extremo afeto em agosto.

Camila Oliveira

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Bonita como um ipê no mês de agosto

É sempre assim quando vai chegando agosto, os ipês nas ruas começam a ficar secos, depois floridos amarelo-rosa. No meio de toda essa seca, desponta a beleza em flor entre o concreto. Um encanto brasiliense, que talvez só dentro da gente é capaz de gerar essa inquietação.
Talvez a beleza aconteça assim, mostre seu melhor lado na adversidade. E talvez seja justamente bonito esse contraste poético... Dias atrás, descobri não ser bonita. Não que seja algo que eu valorize. Admitir sua feiura pode ser um ótimo filtro de babacas, Bukowski concordaria comigo. Mas aí eu descobri que beleza não é algo que torna as pessoas neuróticas e chatas. A real beleza é aquela que a gente adquire com o tempo. Que só gente que passou pela vida sem superficialidade possui, que se esconde nas rugas do velhinhos. E eu quero ser bonita assim. Como as divagações do Bukowski, como um ipê no mês de agosto.

domingo, 29 de julho de 2012

A noite de ontem foi linda. Como se o universo percebesse que eu precisava admirar certas coisas há muito esquecidas por mim. Fiquei nervosa, tive gastrite e pesadelos nos últimos dias. Eu sabia que meu corpo tava me avisando tudo desde o início. Mas a noite de ontem foi linda. Fitas ao vento, abraços sem fim, sorrisos inocentes e doces. Casa, banho quente, canto and it's over, and I'm going under, but Im not givin' up, I'm just givin' in. Até as lágrimas que derramei foram dançantes. Levaram minha maquiagem, meu medo, meu pesadelo... Sonhei com beijos calorosos e olhos azuis e flores no cabelo.


terça-feira, 17 de julho de 2012



  • É só que os relógios da vida levam um tempo pra se ajustar enquanto a gente vai vivendo e se aperfeiçoando. Aí, quando enfim as coisas se alinham a gente se reconhece no processo todo.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

O casal que ia mudar o mundo

Ele amava ela que amava ele que os faziam crer que mudariam o mundo. Ela trocou a armação antiga dos óculos por uma moderna, dessas de jornalista. E passou no vestibular pra comunicação. Ele fez fotografia, transformou paixão em ofício e foi congelar momentos por aí. Eram lindos com seus cabelos crespos ao ar! Dois anarquistas, sonhadores, vegetarianos e inconsequentemente belos. Seus olhos sempre enxergando algo adiante...
Um dia ela foi pro Canadá. Comprou livros e aprendeu a cozinhar. Trocou a armação dos óculos de novo. Ouviu músicas e abraçou árvores.
Ele foi para a igreja. Comeu churrasco, raspou o cabelo e vai se casar com uma moça ruiva.
Soube que não vão mais mudar o mundo.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Querência de não me ser suficiente

Eu não tenho sobrenome estrangeiro. Sempre quis. Deve ser porque penso em todo trabalho científico que quero produzir pra sair bem e bonita nas citações. Não tenho sotaque. Dizem que tenho, mas acho que é só uma lacuna brasiliense que eu preencho ao roubar o sotaque dos outros. Eu não passei no vestibular pra Letras. Eu queria. Tentei duas vezes. Mas talvez não soubesse mesmo se queria naquela época. Eu quis fazer Ciências Sociais depois que estudei Sociologia em Saúde na UnB. Eu nunca quis UnB. Eu quis sair do quadradinho e conhecer gente, que nem nos filmes americanos em que as pessoas se mudam pra fazer graduação. Eu sempre quis aprender inglês. Ficava cantando letras de músicas que eu mal entendia. Lá no fundo eu tenho inveja de todo mundo que fez um bocadinho das coisas que eu acabei deixando escorregar pelo tempo. E fiquei nessa querência de não me ser suficiente em quase nada.


E eu sussurro bem baixinho por aí que existem escolas que defendem que a Terapia Ocupacional não é uma profissão biomédica, sim social. Aí mando meu id calar a boca. Mas me alivia, na verdade.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cavando buracos

Tá tudo bem e eu aqui. Aqui cavando buracos no passado, arrancando os pontos já cicatrizados dessa ferida com cicatriz mal aderida. Eu sei que já caminhamos por essa estrada tortuosa. Separados, mas, de algum forma, bonita e poética, estávamos juntos. Ali éramos nós, dois desconhecidos lutando contra o mundo... Esperando pelo dia que nos encontraríamos. Agora nada importa. E eu aqui cavando buracos. Nessa minha atração fatal por sentir as lágrimas quentes escorrerem até meu queixo.

domingo, 29 de abril de 2012

Era eu, ali
Naquele não-lugar
Do não-existir
Des-existir

E você veio

sábado, 7 de abril de 2012

Até aquela moça sem graça, que segue a onda humana, me dá inveja às vezes.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

(Victor Huckabee)
Tenho a ligeira impressão que todas as pessoas da minha idade já são adultas enquanto eu ainda reluto em aceitar isso. Essa sensação constante de abandono, a obrigação de ser agora alguém que eu sequer reconheço: crescida, desajeita e cheia de vontades me dá um nó na garganta e não me deixa dormir à noite. Eu tenho medo. Medo de estar desprotegida, medo de não estar pronta, medo de errar, medo de ter medo.

terça-feira, 6 de março de 2012

sábado, 3 de março de 2012

Beijei a lua branca da tua pele
E voltei sem pressa
Senti todo o caminho em mim
Centímetro por centímetro
Até dois mil trezentos e trinta e tantos quilômetros
Corpo e mente cansados
Incendiados
Pelo calor das memórias amadas
Trancadas num quarto

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Acordei com pressa. Com pressa de viver dias em que o tempo fosse vagaroso de novo. Com pressa de ser feliz por algum tempo a mais. Por hoje, amanhã, depois; uma pequena pausa no meio, pode ser; e depois e depois e depois.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fazer de você meu lar

Eu vi o cruzeiro do sul
Lá do Sul
Ele é ao contrário
E o ar é abafado
Tudo é verde e azul
Eu vi o cruzeiro do sul
Me descambei até o Sul
E fui te encontrar
Pra ter certeza do que eu já tinha certeza
Fazer de você meu lar

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mãe, vou ser poeta

Retirou-se do mundo
"Mãe, vou ser poeta"
Violão nas costas
E sebo nas canelas


(a rima é boba mas o poema é verdadeiro)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Sem choro

Nem vela
Nem cela
Nem reza
Nem coro
Nem nada

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

De quantos caminhos
O acaso se faz?
São dois
Em um
Que são dois só
Agora
Dois fingidores
Dois fugitivos
Dois figurantes
Da desavença
Do azar
Dos papos de bar

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

And here we are...

Era setembro. Ele chegou como quem não queria nada. Usou um "=]" no orkut, eu respondi com um "Oi? (:" meio desconfiado. Ora, socializando por orkut? Quem é que faz isso? Não demorou muito e nossas conversas no messenger se tornaram um costume diário, uma dose de humanidade, de empatia e de divagações sobre as coisas mais banais. Era estranhamente bom pensar que alguém podia realmente se interessar pelos acontecimentos do meu dia, já que quando qualquer outra pessoa me perguntava sobre ele, "normal" era uma resposta satisfatória. Não pra ele. Depois disso, algumas coisas passaram a fazer mais sentido justamente porque existia alguém pra contar mais tarde, quando chegasse em casa. Até chegar em casa tinha um sentido diferente... 
O tempo foi passando bem mais devagar nesses dias, cada detalhe era apreciado, digno de nota. O livro lido, a música ouvida, o comentário feito, as notícias recentes. Eu me sentia melhor, como nunca havia experimentado antes. Era gostoso pensar que em algum lugar do mundo eu era importante, querida, e, quem sabe até platonizada. Não demorou muito pra esses sentimentos bons começarem a me causar agonia. Era possível estar apaixonada? Eu? Será que já não estava imune à irracionalidade? Janeiro chegou e ele foi pro Canadá. O distanciamento me parecia bom pra colocar as coisas no lugar. Ainda tinha aulas, pois a faculdade teve um período de greve que esticou o calendário acadêmico. Saí um pouco de casa, conheci algumas pessoas, fui selecionada pro curso de educadores populares, comecei a ler um livro do Rilke. Queria achar conforto em qualquer outro lugar, fugir... Ele me deixava recados no orkut toda semana, contando do Canadá, o que servia pra me deixar com raiva por sentir qualquer faísca de esperança e não ajudava muito nos meus planos do período de distanciamento. 
Até o Rilke serviu pra me encorajar, me perguntava se o clima [em Brasília] não teria mudado por conta de todo "nosso" calor, será que as rosas não floresceram no parque por mais tempo? A resposta a essa pergunta me fez, pela primeira vez, querer contar tudo que sentia de uma vez. Era um dia chuvoso e eu tinha ensaiado. Todas as palavras já estavam na minha mente e eu tinha o estranho pressentimento que tudo seria desfeito naquele dia, quando eu contasse a verdade. Nesse dia, ele estava bem animado quando conversamos e eu recuei. Se aquilo era tudo o que eu podia ter, que fosse. Julguei poder aguentar em silêncio, e foi o que fiz desse dia em diante.  
Em fevereiro foi seu aniversário, enviei seu presente pelo correio antes de ir pra São Paulo, julgando que os dias lá me ajudariam a esquecê-lo um pouco. Confesso, foram dias muito bons na terra da garoa, estava com meus melhores amigos, ajudando a Blood:Water Mission, conhecendo lugares diferentes... Tudo possuía detalhes dignos de nota, mas faltava algo ainda, a necessidade do relato foi sufocada em mim. Nesse mesmo período, coisas mal resolvidas do passado voltaram. Feridas quase cicatrizadas foram abertas e eu me vi sozinha pra resolver tudo aquilo. A depressão tinha me pegado de novo, e com tudo, deixando as coisas fora do lugar. Ele voltou pra casa e eu também voltei, inclusive, para a rotina de horários alternativos no messenger, nas férias passava madrugadas acordada, conversando com ele... De repente, eu não estava mais sozinha. Encontrei conforto nele, de novo. Comecei a pensar, mais uma vez, em contar-lhe a verdade, me dava um nó na garganta ter que esconder isso, me fazia mal. Mas as variáveis não eram das melhores. Se eu contasse, me livraria de um peso nas costas, mas o que aconteceria depois? Eu só podia estar delirando, ele era só um rapaz simpático que morava muito longe. 
No final de maio eu viajei de novo, pra um seminário em Belo Horizonte e coisas estranhas aconteceram  lá, um dos meus grandes amigos acabou interpretando nossa amizade de uma maneira diferente, confundindo as coisas pra mim e pra ele, pensei que nossa amizade havia acabado e, de novo, fiquei bem pra baixo.
Também de novo, alguém me aguardava no messenger pra não me deixar sozinha nesse outro período difícil. Mas eu não suspeitava que esse acontecimento teria mexido com ele da maneira como foi. Ele passou um bom período sem dar sinal de vida algum... Eu continuava vendo sentido em coisas banais, tendo histórias do meu dia pra contar; mas logo tive que me acostumar com a ausência dele. Não posso negar que fiquei um pouco aliviada. Tampouco que fiquei bem triste. Mas era bom que seguíssemos em frente, era bom que eu seguisse em frente com a minha vida "aqui fora". Algumas conversas aconteceram depois disso, mais rápidas. Numa delas, ele disse que tinha algo pra me mandar.
No final de junho recebi uma caixa amarela com seu nome. Dentro havia um livro, um ursinho de pelúcia canadense e uma carta. Era a primeira vez que via sua letra. Era uma letra tímida e admito que fiquei um bom tempo olhando para aquele pedaço de papel sem ler, o pensamento de que ele havia tocado aquela folha, reservado tempo para escrevê-la, pensado em cada palavra, escolhido os itens daquela caixa... Tudo isso me deixou meio boboca. Ele começou a carta dizendo que tinha um outro propósito ao escrevê-la, mas tinha perdido parte de seu otimismo fajuto. Foi quando disse que uma imaginação prejudicial o levou a imaginar como seria algo além de uma amizade à distância comigo, porém achava que eu estaria em outros rumos, estes que me distanciariam dele, fazendo-o feliz por mim e infeliz por ele. Não sei se alguém aqui sabe como é o sentimento de ter algo que desejou muito bem ali, quase podendo sentir o gosto. Eu, que nunca soube como agir nessas situações, demorei dois dias para conseguir entender aquilo que estava acontecendo e responder de modo satisfatório. A carta havia me enchido de felicidade e dúvida. Decidi contar tudo o que estava sentindo, por tudo o que passei, das vezes que tentei contar, do que pensava a respeito do assunto. Naquele momento estava acontecendo justamente o que eu temia. Mesmo que tudo desse certo, ainda havia uma palavra de 2.312 quilômetros de comprimento: distância.
 Já estava resignada quando ele sugeriu me visitar, o que fez meu otimismo voltar e estômago revirar. O tempo parecia se arrastar mais lentamente ainda conforme a data de sua chegada se aproximava. Eu ia vê-lo pela primeira vez. Era inconsequente, irracional e extremamente empolgante. O reconheci assim que o vi ao lado da esteira esperando a mala, não consigo me lembrar muito bem dos pensamentos que tive enquanto estava ali esperando, eu tremia muito. Ele me mandou uma mensagem dizendo que tinha acabado de chegar e eu respondi dizendo que já tinha o avistado e estava logo atrás dele. Percebi que ele leu a mensagem e abaixou a cabeça, devia estar com vergonha assim como eu. Depois, olhou pra trás, acenou pra mim. Quando estava saindo do desembarque caminhei até sua direção sem dizer nada e dei/ganhei o abraço mais aconchegante e duradouro do mundo.

Pouco me importava de atrapalhar as pessoas que estavam ali, eu poderia ficar o resto da noite naquele abraço, que agora era de verdade. Aquele abraço deu significado a tudo e encurtou o caminho até o beijo. 
O resto, apesar de bonito e engraçado, não é importante. And here we are....





O nome dele? Michel Dias Domenech Collares, 23 anos, gaúcho.

domingo, 15 de janeiro de 2012

É sempre a mesma coisa. Meus punhos estão sangrando de tanto lutar por causas pequenas e insignificantes, essa gastrite que vem dos meus nervos incontroláveis e a cólera que consome meu corpo e pensamentos vão me matar, eu sei. Matar aos poucos. Matar com crueldade. Vão minar tudo aquilo que eu julgo importante e de valor, vão me deixar, me deixar... Me deixar sem chão, sem ar. Vão me matar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Minha velha companheira

Você chegou e eu mal percebi a sua presença, me desculpe. Andei por aí como se você não existisse. Até que você me derrubou no chão. A queda foi feia, gerou uma bela decepção. Sentir-se desolado e dependente de razões somente internas é uma viagem difícil de fazer sozinha. Mas eu fui lá com você.
Você me derrubou no chão. Eu sei, essa era sua pretensão. Fez e faz tudo parecer maior do que realmente é, me vejo acordando no banheiro, debaixo do chuveiro com o coração na mão.
Essa é pra você, depressão.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O desapego é meu

E ninguém tira isso de mim.