Eu não era muito parecida com ela, me sentia desinteressante quando ela estava por perto. Ia diminuindo, diminuindo... até desaparecer.
Ela tinha a coragem de um cabelo roxo da cor de flores do cerrado que deixava suas costas nuas, eu invejava tamanha ousadia, tanta rebeldia em um rosto sereno; ela tinha uma bicicleta laranjada e muitas leituras acumuladas, tinha um olhar verde triste de palmeira quase seca, assim como o meu. A despeito de parecer sempre feliz quando falava, minha fala era vazia e sem cor perto dela.
O mundo era só dela. Ele era só dela. E eu desaparecia. Me perguntava se alguém um dia olhou para mim como eu olhava para ela, encantada por todo seu mistério.
Queria conhecer seu diário de memórias, saber o que guarda embaixo de sua cama, se deixa a poeira acumular sobre a estante, queria suas roupas de algodão cru emprestadas, seu xampu e seu perfume.
Menina do cabelo roxo, você anda triste? Perdeu seu sonho, seu tom? Quem desejaria outra se possuísse você?