quinta-feira, 4 de junho de 2009

A internacionalização do mundo.

Passada a pira de ontem, volto aqui.
Em minhas madrugadas de estudo, quando cansei-me de resolver exercícios de análise combinatória fui ler um pouco da minha apostila de geografia e encontrei um texto FANTÁSTICO do meu querido Cristovam Buarque que foi publicado em 10 de Outubro de 2000 na jornal "O Globo" - mesmo sendo velho, é muito atual.
E toda e qualquer pessoa que acredita na educação como meio de mudança, dignidade e transformação, admira esse homem; entre outros aspectos. Incluo-me nessa categoria. Irei transcrever o texto aqui, não reparem possíveis erros.

"Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humaista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizaremos tambéms as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.
Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido intenacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniram o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada.
Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizaremos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola.
Internacionalizaremos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

3 comentários:

Beatriz Lemes dos Reis disse...

Seu rosto me é familiar, devemos ter nos esbarrado de fato, vc saiu em que ano?
Sua carga de postagens é de fato maior que a minha... Não sei, eu tenho surtos e escrevo, odeio regras, odeio pressão, tenho desprezo por gramática ( ao mesmo tempo a amo, afinal, internizei suas regras sem saber com longas leituras), quimica, fisica, qualquer coisa que me prenda a regras; tão más e tão necessárias.
Escrever é mágico, é um desabafo, e assim como tem de se ter sensibilidade para escrever, tem de se ter mais ainda para ler, sentir, interpretar...

Fico feliz pela sua visita, te ofereceria um award, mas acho que seu blog não faz muito esse estilo

se quizer pegar, estou oferencendo com o maior prazer do mundo.

Putz, já to escrevendo um texto! XD
...

Quanto ao post, o texto é brilhante.

Perdão aos meus erros gramaticais se os vir, to sem tempo pra revisar qualquer coisa


boa quinta

ps: Pode chamar de Bia, Beatriz é fomal demais

Bisou.


www.biahalterbeck.zip.net

ola disse...

oi, fisestes um comentário no meu blog e tal...
bem, muito obrigado pela participação e mantenha contatos...
quanto à esta postagem, gosto muito
de C. Buarque...
E esse texto dele diz tudo:
A Amazônia é nossa!
muito bom!

Night Angel disse...

Que momento WTF da MTV que nada!!!!!!!! O negócio mesmo é Momento "OMG (OH MY GOD!!!) vão queimar mais uma tonelada de petrólio em algum lugar mesquinho pq não aprendemos a nos virar com o que precisamos para viver", isso sim é um momento WTF.