sexta-feira, 31 de julho de 2009

Prenez soin de vous.

Cuide de você. Esse é o nome da exposição de Sophie Calle que está em São Paulo e estará em Salvador. Talvez eu devesse ficar indignada com os grandes espaço e estrutura cultural que Brasília tem, e mesmo assim não recebe nenhuma exposição desse porte.
Sophie Calle é artista plástica francesa que fez de seu sofrimento uma exposição com mais de 100 fotos de mulheres que fizeram a releitura de uma carta que Sophie recebera. Na carta, seu namorado,Grégoire Bouillier dizia adeus.
Você pode pensar: "Que sacanagem ele terminar com ela por e-mail!" ou "Que sacanagem ela ter exposto assim a carta dele" ou até mesmo "Que esperta, fez dinheiro com sofrimento"
Mas eu penso: Terminar? Por e-mail ou pessoalmente? Faz diferença? É terminar mesmo. Sofrer? Consequência do lado mais fraco - no caso, Sophie. Fazer dinheiro com sofrimento? Garanto que essa não foi a intenção dela. E eu, como escritora que sou, posso muito bem desabafar em meu turbilhão de palavras e ser convidada a lançar um livro, qual o problema?
Sempre dizem que mulher sofre mais, mas eu não concordo com isso em sua totalidade. Fato é que as mulheres, por vezes, sofrem mais mesmo. Mas elas precisam externalizar isso e algumas o fazem sutilmente, outras ficam bêbadas, outras saem com muitos caras, outras escrevem, outras cantam... Enfim.
Isso significa que homens não tenham sentimentos? Não, não significa. Mas o homem que se espera deve ser forte, deve ser HOMEM. E o homem que se espera não tem sentimentos.
Ser mulher talvez seja menos simples e mais instigante. Por isso amo as mulheres, principalmente as artistas. Elas são suaves e ao mesmo tempo agressivas. Frida Kahlo, Alanis Morissette, Clarice Lispector, Amy Winehouse, Ana Miranda e muitas outras.
Chega de papo e vamos ao que interessa! A carta de Grégoire Bouillier à Sophie Calle:

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer pessoalmente. No entanto, vou fazê-lo por escrito. Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.


Cuide de você."


Sophie me convidou a cuidar de mim mesma, e é isso que eu quero. Toda mulher precisa de uma carta com palavras clichês e repetidas, de um adeus, de um amor, de uma tristeza.
Assim, quero cuidar de mim mesma. Carregar meu canhão de flores, abraçar o vento, deitar na grama, beijar o céu.


Je prends soin de moi.

6 comentários:

Rosa Amarela disse...

Lindos os dois textos, o seu e a carta...

Camila Lua Oliveira disse...

Enfim, até nossas estações são aprecidas: Cuidar-se.

Elayne Gemignani disse...

Rafaela,
Garota que é puro talento... Dedico para você no meu blog, o Selo Dourado, recebi-o e repasso com todo meu carinho. Venha até o curiosidade para buscar. Beijos

Jenny disse...

comofäs, assim, tão 'mulheril'? =~

Rosa Amarela disse...

Rafinha, a reforma mexe, realmente, com a nossa cabeça! Coisas aprendidas há tempos parecem que, pela força do hábito, nunca a reaprenderemos.
Contudo, vale lembrar que o acento do TÊM marca a flexão do verbo. Ele não caiu. E o acento do PÔR é diferencial. E também não caiu. Certo? Beijinho

Geovanni Timbó disse...

Je pense que tout le monde doit prendre soin de soi-même... et que tout le monde apprend à le faire un jour...