terça-feira, 24 de janeiro de 2012

And here we are...

Era setembro. Ele chegou como quem não queria nada. Usou um "=]" no orkut, eu respondi com um "Oi? (:" meio desconfiado. Ora, socializando por orkut? Quem é que faz isso? Não demorou muito e nossas conversas no messenger se tornaram um costume diário, uma dose de humanidade, de empatia e de divagações sobre as coisas mais banais. Era estranhamente bom pensar que alguém podia realmente se interessar pelos acontecimentos do meu dia, já que quando qualquer outra pessoa me perguntava sobre ele, "normal" era uma resposta satisfatória. Não pra ele. Depois disso, algumas coisas passaram a fazer mais sentido justamente porque existia alguém pra contar mais tarde, quando chegasse em casa. Até chegar em casa tinha um sentido diferente... 
O tempo foi passando bem mais devagar nesses dias, cada detalhe era apreciado, digno de nota. O livro lido, a música ouvida, o comentário feito, as notícias recentes. Eu me sentia melhor, como nunca havia experimentado antes. Era gostoso pensar que em algum lugar do mundo eu era importante, querida, e, quem sabe até platonizada. Não demorou muito pra esses sentimentos bons começarem a me causar agonia. Era possível estar apaixonada? Eu? Será que já não estava imune à irracionalidade? Janeiro chegou e ele foi pro Canadá. O distanciamento me parecia bom pra colocar as coisas no lugar. Ainda tinha aulas, pois a faculdade teve um período de greve que esticou o calendário acadêmico. Saí um pouco de casa, conheci algumas pessoas, fui selecionada pro curso de educadores populares, comecei a ler um livro do Rilke. Queria achar conforto em qualquer outro lugar, fugir... Ele me deixava recados no orkut toda semana, contando do Canadá, o que servia pra me deixar com raiva por sentir qualquer faísca de esperança e não ajudava muito nos meus planos do período de distanciamento. 
Até o Rilke serviu pra me encorajar, me perguntava se o clima [em Brasília] não teria mudado por conta de todo "nosso" calor, será que as rosas não floresceram no parque por mais tempo? A resposta a essa pergunta me fez, pela primeira vez, querer contar tudo que sentia de uma vez. Era um dia chuvoso e eu tinha ensaiado. Todas as palavras já estavam na minha mente e eu tinha o estranho pressentimento que tudo seria desfeito naquele dia, quando eu contasse a verdade. Nesse dia, ele estava bem animado quando conversamos e eu recuei. Se aquilo era tudo o que eu podia ter, que fosse. Julguei poder aguentar em silêncio, e foi o que fiz desse dia em diante.  
Em fevereiro foi seu aniversário, enviei seu presente pelo correio antes de ir pra São Paulo, julgando que os dias lá me ajudariam a esquecê-lo um pouco. Confesso, foram dias muito bons na terra da garoa, estava com meus melhores amigos, ajudando a Blood:Water Mission, conhecendo lugares diferentes... Tudo possuía detalhes dignos de nota, mas faltava algo ainda, a necessidade do relato foi sufocada em mim. Nesse mesmo período, coisas mal resolvidas do passado voltaram. Feridas quase cicatrizadas foram abertas e eu me vi sozinha pra resolver tudo aquilo. A depressão tinha me pegado de novo, e com tudo, deixando as coisas fora do lugar. Ele voltou pra casa e eu também voltei, inclusive, para a rotina de horários alternativos no messenger, nas férias passava madrugadas acordada, conversando com ele... De repente, eu não estava mais sozinha. Encontrei conforto nele, de novo. Comecei a pensar, mais uma vez, em contar-lhe a verdade, me dava um nó na garganta ter que esconder isso, me fazia mal. Mas as variáveis não eram das melhores. Se eu contasse, me livraria de um peso nas costas, mas o que aconteceria depois? Eu só podia estar delirando, ele era só um rapaz simpático que morava muito longe. 
No final de maio eu viajei de novo, pra um seminário em Belo Horizonte e coisas estranhas aconteceram  lá, um dos meus grandes amigos acabou interpretando nossa amizade de uma maneira diferente, confundindo as coisas pra mim e pra ele, pensei que nossa amizade havia acabado e, de novo, fiquei bem pra baixo.
Também de novo, alguém me aguardava no messenger pra não me deixar sozinha nesse outro período difícil. Mas eu não suspeitava que esse acontecimento teria mexido com ele da maneira como foi. Ele passou um bom período sem dar sinal de vida algum... Eu continuava vendo sentido em coisas banais, tendo histórias do meu dia pra contar; mas logo tive que me acostumar com a ausência dele. Não posso negar que fiquei um pouco aliviada. Tampouco que fiquei bem triste. Mas era bom que seguíssemos em frente, era bom que eu seguisse em frente com a minha vida "aqui fora". Algumas conversas aconteceram depois disso, mais rápidas. Numa delas, ele disse que tinha algo pra me mandar.
No final de junho recebi uma caixa amarela com seu nome. Dentro havia um livro, um ursinho de pelúcia canadense e uma carta. Era a primeira vez que via sua letra. Era uma letra tímida e admito que fiquei um bom tempo olhando para aquele pedaço de papel sem ler, o pensamento de que ele havia tocado aquela folha, reservado tempo para escrevê-la, pensado em cada palavra, escolhido os itens daquela caixa... Tudo isso me deixou meio boboca. Ele começou a carta dizendo que tinha um outro propósito ao escrevê-la, mas tinha perdido parte de seu otimismo fajuto. Foi quando disse que uma imaginação prejudicial o levou a imaginar como seria algo além de uma amizade à distância comigo, porém achava que eu estaria em outros rumos, estes que me distanciariam dele, fazendo-o feliz por mim e infeliz por ele. Não sei se alguém aqui sabe como é o sentimento de ter algo que desejou muito bem ali, quase podendo sentir o gosto. Eu, que nunca soube como agir nessas situações, demorei dois dias para conseguir entender aquilo que estava acontecendo e responder de modo satisfatório. A carta havia me enchido de felicidade e dúvida. Decidi contar tudo o que estava sentindo, por tudo o que passei, das vezes que tentei contar, do que pensava a respeito do assunto. Naquele momento estava acontecendo justamente o que eu temia. Mesmo que tudo desse certo, ainda havia uma palavra de 2.312 quilômetros de comprimento: distância.
 Já estava resignada quando ele sugeriu me visitar, o que fez meu otimismo voltar e estômago revirar. O tempo parecia se arrastar mais lentamente ainda conforme a data de sua chegada se aproximava. Eu ia vê-lo pela primeira vez. Era inconsequente, irracional e extremamente empolgante. O reconheci assim que o vi ao lado da esteira esperando a mala, não consigo me lembrar muito bem dos pensamentos que tive enquanto estava ali esperando, eu tremia muito. Ele me mandou uma mensagem dizendo que tinha acabado de chegar e eu respondi dizendo que já tinha o avistado e estava logo atrás dele. Percebi que ele leu a mensagem e abaixou a cabeça, devia estar com vergonha assim como eu. Depois, olhou pra trás, acenou pra mim. Quando estava saindo do desembarque caminhei até sua direção sem dizer nada e dei/ganhei o abraço mais aconchegante e duradouro do mundo.

Pouco me importava de atrapalhar as pessoas que estavam ali, eu poderia ficar o resto da noite naquele abraço, que agora era de verdade. Aquele abraço deu significado a tudo e encurtou o caminho até o beijo. 
O resto, apesar de bonito e engraçado, não é importante. And here we are....





O nome dele? Michel Dias Domenech Collares, 23 anos, gaúcho.

2 comentários:

Paulo Matheus disse...

Gostei muito, Rafa!
Comigo e a Dani não foi tão diferente, além da dificuldade 'distância', ainda tivemos um sentimento parecido com relação a partir de uma amizade, que cada vez aumentava, para algo que sentíamos da mesma forma, que é esse amor que sinto por ela, e que para minha surpresa, ela sentia e sente da mesma forma!

Depois, a empolgação só aumenta, e a saudade, mesmo que nos deixe com o coração apertado, faz com que esse amor apenas aumente e se torne ainda mais duradouro! ^^

Já sabe, ein: EVs no casamento! =)
Abraço e tudo de bom pra vocês!

Unknown disse...

Que lindoooo....adorei mesmo a sua história....tem algumas coisas parecidas com a minha e do meu noivo....as voltando ao texto.....vocÊ escreve muito bem. Parabéns e sucesso.