quinta-feira, 17 de março de 2011

À uma hora da manhã

Mécontent de tous et mécontent de moi, je voudrais bien me racheter e m'enorgueillir un peu dans le silence et la solitude de la nuit. Âmes de ceux que j'ai aimés, âmes de ceux que j'ai chantés, fortifiez-moi, soutenez-moi, éloignez de moi le mensonge es les vapeurs corruptrices du monde; et vous, Seigner mon Dieu! accordez-moi la grâce de produire quelques beaux vers qui me prouvent à moi-même que je ne suis pas le dernier des hommes, que je ne suis pas inférieur à ceux que je méprise.

Descontente com todos e descontente comigo mesmo, quero me restabelecer e reaver um pouco do meu orgulho no silêncio e na solidão da noite. Almas daqueles que amei, almas daqueles que cantei, fortaleçam-me, apoiem-me, mantenham longe de mim a mentira e os vapores corruptores do mundo; e tu, Senhor meu Deus, conceda-me a graça de criar alguns belos versos que provem a mim mesmo que não sou inferior àqueles que desprezo.


À une heure du matin, Charles Baudelaire.

quarta-feira, 16 de março de 2011

escrevi uma carta

Escrevi um carta. As palavras vinham uma de cada vez no início, depois comecei a atropelá-las e a borrá-las com lágrimas no papel bonito que eu havia comprado para levar minha carta a você. Reescrevi em cima do papel molhado, que ficou com um aspecto desleixado e triste. Cansei de me anunciar por aí, cansei travar batalhas comigo mesma. Você ainda se importa? Você ainda espera?
Seus olhos vagavam tristes quando te vi pela última vez, tentei ser forte para você, mas ser forte dói. Dói e cansa.
Amassei a carta, quase joguei-a no lixo, mas enviei mesmo assim, desculpe a falta de jeito. Quero te mostrar com ela que não sou forte. Eu sou fraca. Resisto às pessoas e às coisas por medo. Medo de me expor e perder a inocência. Mas por favor, me entenda e ainda me queira por perto. Eu não lembro mais de como era minha vida antes de te conhecer. Provavelmente era mais triste e vazia. Provavelmente você me revirou dentro de mim mesma de um jeito tão bonito que me fez ser melhor, ou tentar ser. Para mim e para você.
Isso vai passar.
Eu te amo.

terça-feira, 15 de março de 2011

caminhodelágrimas,caminhoporlágrimas

Chorei duas quadras até chegar em casa. Foi o caminho mais longo e tortuoso. Ninguém me percebeu na rua. As pessoas não olham mais nos olhos de desconhecidos, caminham em movimento autômato de apenas colocar um pé à frente do outro e seguir.
Meu soluço tornou-se insuportável junto às contrações involuntárias do meu corpo, que a cada suspiro ficavam mais vigorosas; minha vontade era perder o ar e desfalecer ali mesmo, naquele asfalto abafado e úmido da chuva, me afogar no caminho de lágrimas que fiz.