segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Maybe I'm Just Tired

É, estou cansada. Cansada de religiosidades. Cansada de procurar. Muitas pessoas pensam que eu me rebelei. Talvez. Não? Tanta repressão deve ter me deixado assim. A verdade é que eu sempre estive farta do sistema religioso. A diferença é que antes eu sentia culpa em verbalizar. Agora não. Induzida ao choro fácil em igrejas, não por espiritualidade. Mas quem, na assembleia dos santos, não tem motivos para chorar? Chorava de vazio, de tristeza... Chorava por me sentir hipócrita e por deixar a culpa me tomar naquela congregação em que eu era a mais desagregada, mais perdida... E voltar pra casa sempre com aquele vazio nunca preenchido. Não preenchido com cargos, louvor, teatro, secretariado, grupo de jovens... Eu me esvaía naquele lugar.
Achei que o problema estava ali e fui atrás de outros lugares. Em vão. Então o problema só podia estar em mim! Uma leve paranoia, talvez. O tempo que me dei ajudou a reorganizar muitas coisas dentro de mim.
A verdade é que estive cansada. Cansada de clubinhos ao invés de igrejas. Cansada de tantos "não" e nenhum "porque". Cansada de frequentar um lugar onde, em nome de Deus, as pessoas eram induzidas à barganha, à passividade, às vãs repetições, ao culto sem propósito, aos rituais sem emoção, à ignorância. Não consigo chamar de igreja um lugar onde Deus te amará apenas se você seguir o padrão dogmático estabelecido pela instituição, pois Deus não rejeita a ninguém, mas as pessoas sim. É como um pai dizer a seu filho que ele só o amará e fará dele seu filho se cumprir uma lista de requisitos. Não consigo chamar de igreja um lugar onde acreditam que Deus deva servir ao homem, não ao contrário, como minha própria bíblia (e a sua também) orienta, nunca o deixando falhar, perder, errar; porque aprendi que todas as coisas contribuem para o bem dos que amam o Pai, e tudo o que Ele faz é perfeito, nós que somos demasiadamente humanos para entender essa perfeição e atropelamos tudo. Não consigo chamar de igreja um lugar onde são lançados devoradores sob a vida daqueles que não pagam a mensalidade. Não consigo chamar de igreja um lugar onde Deus seja visto como um faraó que está pronto a te punir. Não consigo chamar de igreja um lugar onde o pastor não é verdadeiro, onde ele é um salteador. E não falo da questão financeira. Falo do roubo de sonhos, de esperanças, de alegria plena no Evangelho, transformando o jugo suave e o fardo leve em exigências sobrehumanas. Sinceramente, não consigo chamar de igreja um lugar assim. Não consigo chamar de igreja os clubinhos que frequentei. São só clubinhos.
A igreja que eu quero frequentar não é perfeita, pois é constituída por homens, que por sua vez não são perfeitos, mas que se respeitam em amor, mal podendo discernir quem são seus líderes, pois o maior se faz menor e todos procuram suprir as necessidades do próximo. A igreja que eu quero frequentar reflete a graça de Deus, pura e verdadeira, baseada no amor e nas escrituras. A igreja que eu quero frequentar é imitadora de Cristo, mudando toda realidade à sua volta, como Ele mesmo o fez. Acalmando o pobre de coração, oferecendo perdão à toda sorte de excluídos. A igreja que eu quero fequentar nem precisa ter um templo alugado, pois aprendi que a igreja está dentro de nós. Nós somos a igreja. Eu encontrei a igreja em mim. E digo a quem quiser em alto e bom tom: ENCONTREI O MEU LUGAR. E nem precisei procurar, pois Ele vive dentro de mim, numa transformação cotidiana, num relacionamento sem teatralidades, na beira da minha cama, no amor ao próximo, na palavra que conforta e exorta com amor.
Por isso eu respondo a quem possa interessar: Não vou frequentar uma igreja. Não preciso aparentar santidade num banco. Eu não quero mais ir à templos e voltar frustrada para casa. E peço perdão a Deus se isso O desagrada. Eu prefiro andar com Ele e servir somente a Ele. Eu prefiro levantar a bandeira de Jesus que de qualquer instituição religiosa. Eu prefiro fazer a diferença em atitudes que em filosofias.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Luz de lua peregrina que pinta às avessas o luar
Não vem do gosto por poesia o dom de amar
Vem da disposição de sofrer
Se entregar
De entristecer, acompanhar
Amor é terra de além-mar
E eu
Bem, eu...
Prefiro ficar

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Respiro, inspiro. Cílios longos pesando sobre meus olhos pseudoverdes, piscando lentamente. Esboço um sorriso no rosto iluminado pela luz das 9 horas da manhã que entra sem pedir licença pela janela do quarto. A noite passou. É sempre um dia de cada vez. Nem sempre tudo muda, mas tudo recomeça.
Escuto aquela voz distante me dizer que ama a luz dos meus olhos, mas ao meu lado não está mais. É quente lá fora e frio aqui dentro de mim.
Respiro, inspiro.
Espero.
E o mar [que nos separa]
tão profundo e grande
quanto o mar que bate
dentro
de
mim... (Camila Oliveira)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O homem e o espelho

Em seu 80° aniversário, ele se levantava da cama e lavava seu rosto como fazia todos os dias. Não era mais um jovem de 20 anos, mas continuava sem saber qual o sentido da vida. Aquele rapaz desprezava tanto a si mesmo que não permitia que as pessoas o envolvessem, ele dizia que amava seu conforto e suas filosofias. Naquele dia pôde perceber que seus olhos estavam envelhecendo. Era um sinal de seus defeitos fatais, que muito o acusavam. Ele buscava por perfeição e nunca encontrou alguém que fosse bom o suficiente, fazia discursos sobre a solidão como má companhia, mas acabou a sós com ela.
Se vestiu e sentou em sua cadeira de balanço na varanda quando viu uma bela senhora com fitas em seu longo cabelo atravessar a rua... Os olhos cansados daquele homem gostariam de amar novamente, e dizer àquela senhora em tempos mais ensolarados: "Por favor não vá, não me deixe aqui sozinho, porque um espelho não é agradável para abraçar".
Desejaria ficar e conversar sobre as nuvens, o cheiro do mar, sobre o verão passado e dizer em dias mais ensolarados: "Por favor não vá, não me deixe aqui sozinho, porque um espelho não é agradável para conversar".