sexta-feira, 31 de julho de 2009

Prenez soin de vous.

Cuide de você. Esse é o nome da exposição de Sophie Calle que está em São Paulo e estará em Salvador. Talvez eu devesse ficar indignada com os grandes espaço e estrutura cultural que Brasília tem, e mesmo assim não recebe nenhuma exposição desse porte.
Sophie Calle é artista plástica francesa que fez de seu sofrimento uma exposição com mais de 100 fotos de mulheres que fizeram a releitura de uma carta que Sophie recebera. Na carta, seu namorado,Grégoire Bouillier dizia adeus.
Você pode pensar: "Que sacanagem ele terminar com ela por e-mail!" ou "Que sacanagem ela ter exposto assim a carta dele" ou até mesmo "Que esperta, fez dinheiro com sofrimento"
Mas eu penso: Terminar? Por e-mail ou pessoalmente? Faz diferença? É terminar mesmo. Sofrer? Consequência do lado mais fraco - no caso, Sophie. Fazer dinheiro com sofrimento? Garanto que essa não foi a intenção dela. E eu, como escritora que sou, posso muito bem desabafar em meu turbilhão de palavras e ser convidada a lançar um livro, qual o problema?
Sempre dizem que mulher sofre mais, mas eu não concordo com isso em sua totalidade. Fato é que as mulheres, por vezes, sofrem mais mesmo. Mas elas precisam externalizar isso e algumas o fazem sutilmente, outras ficam bêbadas, outras saem com muitos caras, outras escrevem, outras cantam... Enfim.
Isso significa que homens não tenham sentimentos? Não, não significa. Mas o homem que se espera deve ser forte, deve ser HOMEM. E o homem que se espera não tem sentimentos.
Ser mulher talvez seja menos simples e mais instigante. Por isso amo as mulheres, principalmente as artistas. Elas são suaves e ao mesmo tempo agressivas. Frida Kahlo, Alanis Morissette, Clarice Lispector, Amy Winehouse, Ana Miranda e muitas outras.
Chega de papo e vamos ao que interessa! A carta de Grégoire Bouillier à Sophie Calle:

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer pessoalmente. No entanto, vou fazê-lo por escrito. Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único. Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.


Cuide de você."


Sophie me convidou a cuidar de mim mesma, e é isso que eu quero. Toda mulher precisa de uma carta com palavras clichês e repetidas, de um adeus, de um amor, de uma tristeza.
Assim, quero cuidar de mim mesma. Carregar meu canhão de flores, abraçar o vento, deitar na grama, beijar o céu.


Je prends soin de moi.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cinco anos de muitas coisas...

Ontem, após dois domingos ausente do Caminho da Graça, estive lá novamente para um culto/comemoração dos cinco anos de reuniões. Encanta-me a simplicidade teológica que vejo lá, e ontem foi emocionante a retrospectiva que o Caio fez. Desde seu auge à sua queda, e seu refúgio em Deus encontrado em Brasília.
Ali, ele comemorou os cinco anos de fé, de caminhada e de relacionamento com Deus. Eu que estava lá, naquela cadeira do teatro do La Salle, comemorava meus cinco meses de cristianismo autêntico e de puras experiências com relação à minha fé. São dezessete anos que beiram os dezoito já. Dezessete anos de porta de igreja, dezessete anos de boas e más experiências. Cinco meses que demorei encontrar, mas encontrei o meu lugar. Talvez não assim, desse jeito. Mas se esses meses acabarem hoje, tenho suporte na minha caminhada cristã para continuar.
Falando em cinco anos, dia 31 desse mês serão cinco anos sem meu tio.
Eu não consigo falar dele, e escrever me parece tarefa tão difícil quanto falar. Mas eu tenho (tinha) a péssima mania de fingir que coisas e pessoas que marcaram minha vida de uma maneira negativa ou sofrida não existissem. Sim, era mais confortável pensar que essas coisas nunca existiram. Que eu nunca sofri, que eu nunca o conheci. Confortável é, mas justo não.
Meu tio existiu, e que existência!
Era uma cara de humor sarcástico, sorriso largo, pele morena e olhos castanhos claro. Era meio irmão da minha mãe, e durante muito tempo morou em minha casa. E foi ali mesmo que ele morreu num sábado, dormindo na sala.
Depois de vários exames e uma eminente exumação do corpo, nada foi encontrado. Como um rapaz de 23 anos morre sem explicação assim?
Dizem que tudo nessa vida vale a pena e que um dia a gente encontra razões para coisas ruins. Não encontrei razões ainda para ele ser tirado de mim, mas aceito isso.
Quando nasci, ele saía do colégio todos os dias e ia correndo me visitar.
E em seus últimos dias comigo, me fez passar por muita coisa boa! Ele era um filha da p*tinha, eu sei. Ou não, minha vó não é p*tinha. Mas ele me fazia muita raiva ao mesmo tempo em que me arrancava muitas risadas.
Eu tinha uns 12 anos e fui à um casamento sozinha. Minha mãe pediu que ele me buscasse de carro no fim do casamento. E lá foi ele. Eram 2 da manhã e quando ele me viu na porta, correu e me agarrou pelas pernas, me levantando no colo gritando bem alto: "Sua pirigueeeeeete, isso são horas de estar na rua?"
Lógico que ele fez isso para que eu morresse de vergonha e, quando chegamos em casa ele riu muito da minha cara.
Outra coisa que lembro foi quando fui visitá-lo no trabalho, de surpresa. Ele me abraçou quando me viu. O que não era muito comum. Acho que ele teve um surto de demonstração de afeto naquele dia. O chefe dele perguntou se éramos namorados até. Imagine um cara de 23 com uma garota de 12-13?
A última coisa que fizemos juntos foi ir ao cimena. Assistimos à Era do Gelo 2.
Semanas depois ele morreu. Eu nunca souber lidar com o luto. Passei três dias chorando, e não fui ao velório, não tive coragem nem condições.
Passado isso, nunca mais consegui chorar.
Mesmo quando meu aniversário chegou e minha mãe me entregou o presente que ele já havia comprado.
Mesmo quando a namorada dele, que estava grávida, perdeu o bebê.
Mesmo quando o aniversário dele passou sem bolo de prestígio, que minha mãe sempre fazia.
Mesmo quando eu me envolvi com caras errados (vulgo todos os caras errados) e ele não estava lá pra me dizer que homens costumam não prestar.
Mesmo quando ganhei meus concursos de redação e ele não estava lá pra me aplaudir.
Mesmo quando joguei handebol no time da escola e perdemos, ele não estava lá pra me zoar ou reclamar do meu short curto.
Mesmo quando me tornei vegetariana e ele não estava lá pra dizer que eu era uma idiota.
Mesmo quando me mudei pra casa nova e ele não teria mais que dormir no meu quarto.
Mesmo quando passei na UnB.

Gostaria de tê-lo em todos os momentos comigo, e mesmo ficando feliz por mim ele jamais demonstraria. Gostaria de ainda ter aquele abraço de 1,90, de ter aquele sarcasmo, aquele sorriso tímido, aquela repulsa por fotos e tudo de bom que ele me trazia.
Então, pra quê fingir que ele nunca existiu?
Existiu sim, e ainda existe em mim. E se pudesse me ver agora, veria a pessoa que me tornei, provavelmente teria orgulho.
Eu não preciso dizer que o amo, pois ele não está mais aqui. E enquanto esteve, o fiz saber disso.
Peço a Deus que nunca me deixe esquecer o rosto dele.



Flores cortadas trazidas dentro de carros
Em uma única linha
Sua família em ternos e gravatas
E você está livre
A dor que eu sinto por dentro
É onde a vida deixou seus olhos
Estou sozinho por nosso último adeus
Mas você está livre
Eu lembro de você como ontem, ontem
Ainda não acredito que você se foi, oh...
Eu lembro de você como ontem, ontem
E até eu estar com você, eu suportarei
À deriva do seu chão de oceano
Eu me sinto pesado, entorpecido e dolorido
Uma parte sua em mim é uma rachadura
E você está livre
Eu acordei de um sonho na noite passada
Eu sonhei que você estava ao meu lado
Me lembrando que eu ainda tenho vida
Em mim

Eu suportarei

Todo lamento é uma canção de amor
Ontem, ontem
Ainda não acredito que você se foi

Até mais meu amigo, até mais.

http://www.youtube.com/watch?v=qRPawS_4wY4&feature=related
Switchfoot - Yesterdays

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A moça e a valsa.

Sentou-se no banco da praça e fitou o céu através de seus óculos escuros que escondiam o inchaço matinal de seus olhos mel selvagem, os cabelos revoltos e a pele alva sob a luz do sol. Era tudo sereno naquela manhã de sábado, cidade de interior, longe do caos costumeiro. Velhinhos e crianças ao redor. Pássaros e muitas árvores. Lá, ela apreciava tudo, quando um simpático senhor a abordou, dizendo:
- Nunca vi moças bonitas frequentarem essa praça pela manhã, e, moça, sei bem do que falo, pois estou aqui sempre.
- Obrigada, mas eu não sou daqui mesmo. - Respondeu ela, sorrindo tímidamente.
O senhor sentou-se ao lado dela e começou a contar-lhe histórias de sua juventude, de sua profissão como professor de dança, de suas (muitas) namoradas, de seus dois casamentos e de seus netos.
- Você sabe dançar? - Perguntou ele.
Ela respondeu com um ar desapontado: - Aaaah, nunca soube, mas gosto de olhar.
Então, pedindo licença, ele a segurou pela mão, levantando-a do banco, colocou sua outra mão nas costas dela, em posição de dança. Cantarolou alguma música e, em compassos imaginários, a conduzia numa valsa. Ela, um pouco travada e relutante, com vergonha, o acompanhava em passos tropeçantes. Por fim, já estava mais segura naquela dança.
- Foi assim que conquistei minha atual esposa! - Disse o velhinho dando uma longa gargalhada.
Ela sorriu também, e, apesar de não ter mais 15 anos, sentiu-se feliz por aprender valsa com o melhor e mais simpático professor daquela praça sob o sol matinal de sábado.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Amanhã é 23.



" Amanhã é 23

São oito dias para o fim do mês

Faz tanto tempo que eu não te vejo

Queria o teu beijo outra vez... "






É que a saudade é o sentimento mais URGENTE que existe.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tem muito mais pra dizer.

Há quanto tempo não escrevo?
Nem sei mais. Perdi a noção do tempo.
Tanta coisa pra contar!
Viajei semana passada, fui à Minas, interior. Levei caderno, caneta e mp3. Era ideal, perfeito. Voltei. Apenas brancura em folhas.
Dias depois, Lucas e Kiro em minha casa. Tour por Brasília. Diversão e risadas.
Estávamos no museu, quando minha mãe liga no meu celular chorando. Eu não entendi nada que ela falou. Nada, nada. Depois de alguns minutos ela respirou e perguntou: "Rafa, minha filha, você entendeu o que eu disse?"
Eu respondi: "Não, mãe, não entendi. Aconteceu alguma coisa?"
Ela, soluçando, disse: "Você passou na UnB, passou na UnB, Rafa!"
Não vi o momento em que desliguei o celular e coloquei minhas duas mão sobre o rosto, já molhado de lágrimas. Lucas segurou meu braço e perguntou o que havia acontecido. Dei a notícia. Fizemos muuuuito barulho dentro do museu!
Depois, o telefone não parava de tocar. Minha tia liga gritando, meus amigos, minha psicóloga.
Meu Deus, era aquilo! Não acreditava!
Os dois primeiros nomes que me vieram à cabeça (não que os outros não sejam importantes) foram Fabrício e Tatiana. Fabrício, melhor professor de uma vida inteira, melhor amigo, melhor apoio. Tatiana, psicóloga.
Cheguei em casa e no telefone haviam 21 ligações perdidas.
Meu pai chegou e me abraçou tão forte *__*

Nesse dia, não tive tempo de pensar muita coisa.
Hoje, já com as emoções quase no lugar, pensei em tudo.
Fiz a inscrição pensando que seria minha última te
ntativa. A prova foi realizada um mês após minha primavera ter ido embora e a matrícula na Católica já havia sido feita. Fui lá, fiz o que sabia. Temerosa e cansada. Em minha redação, falei sobre Frida.
E lembro da frase que coloquei no fim: Frida me ensina a viver.

Eu pensava estar tapeando a todos que acreditavam em mim. A tapeada fui eu.
Esse é o fim de uma luta e o início de outra.

O que eu digo agora?
Obrigada serve?
Oi UnB!
Tem muito mais pra dizer, mas por enquanto só consigo isso.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Odeio números ímpares.

Odeio números ímpares. Odeio mais ainda os primos. Mas, por incrível que pareça, os anos ímpares são sempre mais generosos comigo. Deve ser porque neles, eu tenho uma idade par. Daqui a 1 minuto vão ser 11:00, a hora do dia que eu menos gosto.
É que eu tenho duas mãos, dois olhos, duas orelhas, duas pernas, dois braços. E um coração. Tá certo que é só um, mas ele tem duas cavidades; o que me faz ainda gostar dele um pouquinho.
Que maldade é essa com os números? Certo que eu nunca fui fã de exatas, mas sempre achei uma sacanagem esses números ímpares. Porque quando a gente agrupa eles, geralmente em pares, sempre fica sobrando um. Quem pensou nesse que sobra? E os primos? Que tristeza, dividí-los apenas por um e por eles mesmos. Se bem que dois também é primo. Então, pares não parecem tão bons no final. E ímpares somados a ímpares ficam pares. E pares a pares também ficam pares. E pares com ímpares, ímpares.
Logo, estar sozinho não parece tão ruim. Tudo pode ser dividido para uma pessoa. E quando ela está com outra, são duas. E dois é número primo. E dois só divide números pares. E vai sempre sobrar quando forem dividir coisas ímpares. E, se dividem coisas ruins ímpares entre duas pessoas, sempre sobra uma. E a que sobra pesa para um dos lados, e faz com que dois prefiram ser um só, cada um do seu lado. Um mais machucado, outro meio intacto, mas ainda assim ruim. E mesmo se tentarem dividir arduamente, cada um fica com 0,5 do um que sobrou, que também é ímpar.
Preciso começar a gostar dos números ímpares. E a gostar de ser ímpar também. É que essa coisa de muitos números não combina comigo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

The waiting room.

Senti vontade de fazer um post pra "homenagear" minha psicóloga. Ela passou um longo período me aturando e quis logo me dar alta pra se ver livre de mim. Sabe como é, né?
Esse foi o melhor lugar em que estive nos últimos 9 meses. Lugar de mais risadas, de mais calmaria, onde mais li, onde mais fui eu, onde mais percebi coisas que estavam óbvias, mas não conseguia ver.



" Olha, Rafa, certa vez namorei um "caboco" que terminou comigo por estar confuso. Eu ia fazer o quê, né? Deixar ele desconfundir. Combinamos ser amigos, assim eu teria umas migalhinhas e não me sentiria tão sozinha, ele também. O tempo foi passando e começamos a nos falar regularmente. Até então normal. Então ele me convidou para ir ao cinema. Eu fui. O ritual foi o mesmo de sempre. Ele comprou meu doce favorito e escolheu um filme de que eu gostasse. Acabou, fui pra casa. Normal. Dias depois, me convidou para ir ao forró. Fomos. Dançamos. Acabou, fui pra casa. Normal. Ele sempre dizia que eu era uma pessoa maravilhosa, senão a melhor que ele já havia conhecido. Um dia, Rafa, dei uma carona pra ele no meu carro e quando parei na frente da casa dele disse que queria conversar. Ele estava ali, ia dizer não?
- Olha, Fulano, eu quero pedir pra você parar de fazer isso. Ao invés de me fazer bem, faz mal.
- Como assim?
- Fulano, se você não tem sentimentos... Aaah, legal! Mas eu tenho! E isso dói.
- Pensei que você fosse mais madura.
- Isso não tem nada a ver com maturidade!
- Tá bom, posso sair?
- Pode. "

(ele saiu do carro)


Grande pausa, Rafaela com cara de oooh sorrow.




Passa a mão nas pernas e diz: É...




Estamos casados até hoje.




Mil risadas!



Vou sentir falta disso, minha psicóloga é a mais melhor de boa desse mundo *__*
E ontem foi um misto de felicidade com perda, mas um ganho muito maior eu tive!
Como quando você sofre um acidente e tem que fazer fisioterapia e reaprender seus movimentos. Se ela me "largou", é porque consigo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Uma ovelha com cara de homem.

Nessas minhas tardes de discografias e páginas de livros, visitei o blog do Caio Fábio, meu "pastor", e amei o texto, em resposta à uma carta que recebeu. Vou colar apenas um pedaço, onde ele fala dele mesmo, do que ele representa hoje. Uma das coisas que mais me impressiona no Caio é sua simplicidade. Para ele e o Caminho da Graça, você não precisa fazer isso ou aquilo e entrar no nosso "clubinho", basta sua fé. Muitas pessoas sabem da história dele. "Adorado" pelos evangélicos há algum tempo atrás, até ter desistido de levar adiante um Cristianismo de modismos e até outros acontecimentos virem à tona. Mas, enfim. Vamos ao texto, hoje não estou inspirada para coisas minhas.

Desse modo, mesmo querendo viajar para o lugar primitivo da simplicidade do Evangelho, tentam parar-me pela interpretação que julga que ... a)...estou criando um povo; b)...estou criando uma subdivisão do Cristianismo; o que é pior do que botar remendo de pano novo em vestes velhas, ou ainda vinho novo em odres velhos.
Na realidade não tenho a intenção de criar nada, pois, de fato, creio que tudo o que se busca criar em nome de Deus já nasce fracassado...
Quem cria é Deus. E cria pela Palavra do Seu poder.
Eu apenas prego. Mas não olho para frente e vejo um povo, um movimento, um grande poder humano, uma grande influencia na Terra...
Não! Não vejo nada além dos que vejo agora, bem diante de mim... Vejo hoje. Vejo agora. Hoje me basta.
Para o futuro, tudo o que vejo no mundo é a morte da fé e a luta indômita de todos os que desejarem se manter em Jesus e no amor de Deus.
No entanto, não dá para dizer que sofro de Síndrome de Perseguição aos Cristãos nominais... Primeiro porque eu não “sofro”... De fato, sofro mesmo, mas não é de síndrome persecutória... E por que sofro? Ora, sofro porque amo. Amo a toda gente deste mundo. Por isto, pergunto: Como não amaria o povo humano em meio ao qual nasci e que é todo ele cristão?
Não é fácil amar tanta gente e viver em freqüente antagonismo contra muitas práticas dessas mesmas pessoas exatamente por amá-las.
O que eu ganho buscando tal enfrentamento?
Sim, se não creio que acontecerá nada além do que está acontecendo com pessoas hoje, mas sem grandes viradas históricas massivas!?...
Tudo o que não sou é paranóico. Se fosse teria ficado mesmo... Rsrsrs. Mas é porque não sou paranóico que não valorizo as agressões que recebo, as quais agora estão virando até “paranóia minha”... Sim, justamente apenas porque os que antes faziam ostensivamente a perseguição agora temem fazê-la, pois, antes, me julgavam morto e sozinho, e hoje me pensam vivo e muito bem acompanhado...
Então, agora, a coisa está assim: virando “sutil paranóia” minha...
Acho tudo muito engraçado!...
Alguém pode negar que antes os evangélicos me “amavam”?...
Alguém pode negar que meu único agravo aos evangélicos tenha sido apenas o que decidi acerca de minha própria existência, não importando se estava certo ou errado?
Alguém pode negar que fui considerado morto e que como tal fui tratado, sem que ninguém perguntasse se eu ainda vivia?
Alguém pode negar o fato de que em tais circunstancias minha melhor ajuda aos evangélicos seja ser exatamente o que para eles eu me tornei?
A história é a seguinte:
Você está morrendo... Mas eles batem em você até a morte. Então, como você não morre e nem fica “caído” no chão, mas levanta e parte para cima dos agressores... indagando acerca de tal loucura, sendo eles frouxos, correm; e, por isto, você se torne o agressivo aos olhos dos mesmos que viram você caído na estrada, ferido de morte, e nada fizeram...
Desse modo, em tal meio, você se torna culpado até de ter sobrevivido muito bem em Deus!
Sim, se você passa adiante... e segue seu caminho, mas não deseja mais a companhia deles... mais adiante escrevem a você e dizem que você sofre de uma “sutil síndrome de perseguição”... ou que você está amargurado... Amargurado eu estive, mas não hoje... Mas quando eu estava amargurado eles nem notavam, pois estavam ocupados demais tentando me matar de vez...
Ora, hoje, quando me acusam de qualquer coisa, sinto muita misericórdia do engano auto-imposto..., em razão do qual algumas pessoas têm a coragem de me acusar sei lá do quê.
Eu não persigo os evangélicos...
Afinal, que poder teria eu para efetivamente fazer isto mesmo que desejasse?... [e nunca foi e nem será o caso!]
Não! Não é nada disso!...
Afinal, apenas sigo pregando o Evangelho...
Todavia, pergunto: será que a tal perseguição minha aos evangélicos não seria apenas a entregação dos próprios evangélicos acerca do fato que o Evangelho se lhes tornou antagônico?
Quanto à ovelha vestida de lobo, creio que seja apenas o vício religioso de ver lobo nas aparências e de ver ovelhas nas aparências...
Eu não vejo nada assim...
Vejo como Jesus mandou que víssemos, não importando a cara, o cabelo, a imagem, o lugar, o modo, o jeito, as palavras, os sinais de milagres, profecias, curas, prodígios ou a ausência deles!
“João Batista nunca fez nenhum sinal, mas tudo quanto disse acerca de Jesus era verdade!”
Portanto, vejo apenas o conteúdo, o fruto.
Jesus disse que era apenas pelo fruto da vida, do amor, da paz, da graça, da misericórdia, da sinceridade com Deus e com a Palavra, que se poderia ver, discernir e provar o fruto da existência de um homem.
A usar o critério das aparências como chamaríamos Elias e João Batista? De lobos vestidos de peles de cabras? Ou de ovelhas vestidas de cabras?
Sou muito menos do que você imagina, e que minhas intenções nem existem como intenções, pois, minha confiança no Senhor é tanta que não planejo nada... Não uso nenhum sentido de posicionamento estratégico, não tenho nenhuma agenda oculta ou sonho grandioso.
Quanto ao sentido escatológico do tencionemento que você detecta em minha existência, peço ao Senhor que jamais o deixe morrer em mim, pois, no dia em que acontecer tudo morrerá em meu ser.
Andar com Jesus é um caminho de expectação escatológico/existencial todos os dias...
Quem não carrega esse surto de expectativa e de significação em sua existência histórica, existirá sem saber o que seja de fato andar com Jesus estando no mundo sem ser do mundo.
Agora pense:
Se você olha para essa porcariazinha aqui que sou eu, e vê essas coisas grandiosas que você viu, ou mesmo as “contraditórias” que você mencionou — como cara de lobo em natureza real de ovelha —, o que você acha que Jesus suscitou nos dias Dele?
“Este menino será objeto de contradição, a fim de que se manifestem os pensamentos ocultos de muitos corações” — decretou Simeão.
Se eu me tornar apenas um chaveirinho dessa contradição já me sentirei galardoado pelo simples fato de assim poder viver e significar as coisas aos sentidos do mundo.
O fato é que sinto que os cristãos ficaram tão pedrados pelo culto moral à imagem e pela estética da “santificação religiosa” [bem à moda dos fariseus], que, hoje, eu poderia dizer tudo o que digo, sem perseguições, se apenas algumas coisas fossem feitas por mim..., a saber:
1ª – me tornar membro de um conselho de pastores;
2ª aceitar pregar em eventos de “líderes”, dizendo sempre: “Nós”, “nosso povo”, “nosso lado”, “nosso crescimento”, “nossos interesses”...;
3ª cortar o cabelo, a barba, vestir gravata, falar de modo a carregar o sotaque do gueto, e, sobretudo, exaltar o fato de que “se está crescendo é porque está bem”...
Pronto! Basta fazer isto e tudo volta a ser como dantes no Quartel de Abrantes...
Entretanto, digo que enquanto os evangélicos ficam buscando sinais de lobos em roupas, cabelos, barbas, ou formas pessoais de personalidade não clonada pela “igreja” — os verdadeiros lobos botam paletó e gravata, arrumam o cabelo com gel, botam um anel de bispo no dedo, evocam um título qualquer, contratam “seguranças”, levantam dinheiro, organizam eventos, representam a “igreja” junto às autoridades, e falam em nome de Deus sob os améns do povo abençoadamente cego...
Quanto a mim, creia: sou apenas uma ovelha com cara de homem!



Nele, em Quem somos apenas quem Ele nos designou para ser, isso se nosso coração não tiver medo de ser,

Caio.

Aqui, na íntegra.